Meio&Mensagem

8 de novembro de 2019 - 18h14

(Crédito: Uzenzen/iStock)

O último dia de Web Summit deixou claro o propósito do evento, e reforçou o motivo pelo qual acredito que a conferência deve fazer parte da agenda quando se trata de debater futuros desejáveis. No evento, discute-se o amanhã, a aplicabilidade da tecnologia para o futuro, sua capacidade de transformação e os obstáculos que devem ser enfrentados durante o processo.

Foi assim que Margrethe Vestager, vice-presidente da Comissão Europeia, que, entre tantos outros feitos, tornou-se conhecida: rivalizou com as gigantes do mundo tecnológico, aplicando taxas tributárias elevadas em busca de coibir as práticas anticoncorrência, e voltou a defender um acordo global para a cobrança de impostos às grandes empresas digitais. Citando as ambições do Google e do Facebook, entre outras, demonstrou preocupação com o desequilíbrio de mercado caso isso não ocorra até 2020.

Sobre o Facebook, ressaltou sua inquietação com a Libra: “A Libra é especial porque ainda não existe, mas nós temos os poderes para olhar para coisas que ainda estão em fase de projeto. Vamos analisar do ponto de vista da concorrência, mas outros colegas vão analisá-la do ponto de vista de estabilidade financeira, considerando lavagem de dinheiro, financiamento de terrorismo….”

Por mais que ataque duramente as grandes conglomerações, Vestager tem a simpatia e o respeito do ecossistema, ao contrário de Michael Kratsios, conselheiro de Donald Trump para a tecnologia, que foi vaiado no Centre Stage, palco do Web Summit, em Lisboa.

Kratsios criticou os países que abriram as portas à China e afirmou que os chineses podem vir a controlar a liberdade dos cidadãos em todo o mundo. Demonstrando falta de entendimento do público com o qual falava, o conselheiro atingiu diretamente Portugal, país em que a multinacional chinesa Huawei está liderando o processo de instalação da tecnologia 5G no país, reconhecida como fator chave para que a quarta revolução finalmente aconteça.

Já Sr. Martin Sorrell, empresário britânico e co-fundador do WPP plc, o maior grupo de publicidade e relações públicas do mundo, começou seus dois talks com a mesma frase: “O velho sistema não funcionará mais, precisamos de um novo.”

Sorrel considera a velocidade da tomada de decisão dos líderes do setor como um dos maiores erros cometidos. “Há uma frustração com essa falta de agilidade” em uma altura em que “enfrentam enorme pressão para reconverter o negócio, do mundo analógico para o digital, já que os produtos digitais têm margens muito maiores, mas ainda representam apenas 20% das vendas”.

Na prática, o co-fundador do WPP, e hoje a frente do S4 Capital, adotou o mantra do ecossistema: “better, faster and cheaper”, e declarou que seu business hoje está focado em uma Santíssima Trindade: ser digital, data driven com foco em escalabilidade e ser uma estrutura empresarial única, o que diverge do atual sistema dos conglomerados de comunicação.

Já finalizando os acontecimentos, a revelação da startup do ano, mais uma vez, trouxe uma empreendedora que vem da área de health: a Nutrix, empresa suíça que apresentou um nano sensor capaz de medir o nível de açúcar no sangue quando aplicado nos dentes, ferramenta mais que importante aumentar a qualidade de vida dos diabéticos. Esse é o propósito da inovação: transformar pessoas, melhorar o mundo.

Como todo ano, antes de apagar as luzes, o presidente Marcelo Rebelo de Souza, carismático e sempre ovacionado pelo público, voltou a reforçar o papel da tecnologia: “Aqui, nós antecipamos as alterações climáticas e o aquecimento global. Eles negaram a realidade. Estávamos resolvendo, antes do tempo, muitos dos problemas do presente e do futuro, e é assim que deve ser”.

Depois de digerir todo este conteúdo, devemos buscar a aplicabilidade do que cabe em nosso microambiente, para, assim, desenharmos um futuro melhor para todos.