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A palavra que nunca foi dita

Entre FOMO, JOMO, enchurrada de buzzwords, legalzices, Aha’s! e as minhas tentativas de onipresença, me dei conta que uma palavra não deu as caras na Altice Arena: “concorrente”


12 de novembro de 2019 - 19h28

Você já viu aqui e aqui e seguindo a #WebSummit as manchetes do muito que rolou na edição 2019.
Entre FOMO, JOMO, enchurrada de buzzwords, legalzices, Aha’s! e as minhas tentativas de onipresença, me dei conta que uma palavra não deu as caras na Altice Arena: “concorrente”.

(Crédito: Rafael Campolina)

Eles partiram por outros assuntos, muitos. Mas o inimigo que mora ao lado não foi convidado para a festa.

Há uma perspectiva óbvia do fato que é onde cada speaker e expositor projetam os holofotes em suas próprias imagens. Além do espelho egoico do show time é natural e porque não positivo que as falas sejam conduzidas por aí. Mantêm a atenção nos aprendizados, criam uma conexão mais forte com o interlocutor e facilitam a compreensão das histórias e ideias que estão sendo compartilhadas.

Porém, há também outras duas análises que valem a memória.

Primeiro que a noção de quem é a concorrência já não é mais tão Kotlerian. A forma como as pessoas consomem e interagem com as marcas assim como seus comportamentos e hábitos enquanto vida social romperam as barreiras convencionais de quem compete com quem.

Por exemplo, Netflix e Uber são concorrentes? Passageiros em um modal de transporte público têm uma chance maior de consumir o vídeo em streaming em seus mobiles, se comparado a uma viagem mais curta e com possível interação com o motorista. Por outro lado, se o fator de escolha para chamar o carro no aplicativo foi o tempo talvez o usuário tenha optado por uns minutos a mais no conforto do seu sofá para terminar o episódio de sua série favorita.

(Crédito: Rafael Campolina)

Em segundo, quem vem primeiro é o cliente. É sempre ele que está no centro da discussão.

Agrega pouco ou nada olhar para o retrovisor. Obviamente considerar e entender a concorrência seguem sendo fundamentais para um planejamento estratégico de qualidade. No entanto, esse não pode ser o ponto de partida.

Teoricamente, já fizemos o trabalho de casa e temos clareza da nossa missão e proposta de valor. Daí em diante as nossas escolhas traduzidas em produtos e serviços devem ser desenhadas para quem importa de verdade.

Acumulamos conhecimento e dados mais que suficientes para serem usados nessa hora e desse jeito. É assim que se faz um modelo de operação de fato human centered.

Sei que é difícil não cair na tentação de comparar, copiar, responder e invejar aqueles que abocanham os suculentos pedaços do market share. Mais difícil ainda é convencer aos tomadores de decisão que esse não é mais o caminho. Mas sim, hoje a concorrência é distração.

Vamos nos manter focados nas pessoas. Nos prospects, leads e lovers. Humanizar e individualizar as experiências. Escutar e movimentar comunidades. Aproximar os nós da rede e entregar valor à necessidades reais.

Você já perguntou ao seu cliente como ele está se sentindo hoje?

Faça isso logo pela manhã, antes de olhar as cotações do mercado na bolsa.

(Crédito: Rafael Campolina)

A palavra que nunca foi dita, pt. 2
Além do perrengue chique da abertura e dos pontos de contato pouco sustentáveis do evento, quais são as outras críticas compartilhadas ao evento?

Há muito espaço para a diversidade. Tanto no público presente quanto nos palcos. A rara diversidade de gênero por exemplo, ainda predominantemente masculina no espaço. Ponto para a Booking.com que, pelo terceiro ano consecutivo, ocupou o seu stand para levantar o movimento #WomenInTech.

Tive a felicidade de conhecer mais de perto o trabalho incrível do Made of Lisboa. Sempre (ou quase) é bom ver a harmonia e efetividade de projetos geridos à quatro mãos entre o público e o privado. Ainda mais quando se mira o longo prazo, raridade nos governos que trabalham por quadriênios eleitoreiros e crescentemente escasso também na mentalidade de alguns executivos empresariais.

(Crédito: Rafael Campolina)

O trabalho coordenado tem trazido velozes e sólidos resultados para fazer de Lisboa uma capital mundial do ecossistema empreendedor. Ou no mínimo ocidental, enquanto o Made in China 2025 sai do forno.

Sediar o Web Summit até 2028 compõe parte desses planos. No entanto, surgem críticas ao tamanho do investimento público e à concretude dos números projetados dos investimentos potenciais retornos.

Desde a última edição se intensificaram também uma cobrança pública em relação ao formato de trabalho voluntário de jovens durante o evento.

Paddy Cosgrave, empreendedor fundador do WS, convidou em 2018 a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, para compor a programação. Foi forçado a desconvidá-la depois de um movimento online dos adeptos ao evento reagindo contrários à participação.

Esse ano, o irlandês se envolveu em nova polêmica vendendo suéteres oficiais do evento por cerca de singelos 800 euros. Mais difícil que pagar as doze parcelas no carnê  para adquirir o bem  —  porque sim, esgotaram —  foi ele justificar que a produção era feita pela empresa de sua esposa, Faye Dinsmore.

(Crédito: Rafael Campolina)

Foto com outra camiseta mais legal 😉

Só é inovação se gera impacto positivo.

E temos dito.

Beijos e até 2020?

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