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“Big techs ficaram acima do bem e do mal”

Para Lica Bueno, sócia e CSO da Suno United Creators, debate em torno das gigantes da tecnologia é estratégica para agências

Isabella Lessa
8 de novembro de 2019 - 11h00

Lica Bueno, sócia e CSO da Suno (Crédito: Arthur Nobre)

Poderia ser o fim do mundo, mas ainda não é: o Web Summit apontou, nos últimos quatro dias, caminhos e possibilidades para a redefinição de muitas indústrias. Com passagens prévias por agências de grande porte e pelo Facebook, Lica Bueno, sócia e CSO da Suno United Creators, vê com bons olhos as inúmeras discussões no evento sobre a conduta das big techs em relação a dados.

Isso comprova, segundo ela, que essas empresas não são mais inatingíveis e que, para as agências, essa é uma oportunidade para serem mais enérgicas em relação aos dados dos anunciantes.

Lica também é entusiasta da discussão sobre novos caminhos que podem levar à quebra e mutação de modelos. De acordo com ela, a Suno é um resultado disso: uma startup que, por meio da independência e da construção de estruturas únicas para cada cliente, consegue preencher lacunas deixadas pelo mercado, como transparência, profundidade e agilidade.

Meio & Mensagem – O Web Summit levantou muito a discussão sobre novos modelos de empresas de vários segmentos. Como vê esse cenário no mercado de agências?
Lica Bueno – Essa discussão é para as agências e para todo mundo. Publicitário é tão egocêntrico que só olha os próprios problemas. Quando eu trabalhava no Facebook eu ouvia muito das agências que o modelo estava implodindo, que era o fim do mundo. Mas, gente, o mundo está acabando para as automobilísticas porque ninguém mais compra carro? Para os bancos, por causa das fintechs? Então o mundo acabou para todos. Não é privilégio do mercado publicitário. Todo mundo está tendo de repensar modelos, toda legacy company e não é diferente para o mercado de comunicação. A Suno foi uma tentativa positiva de quebrar esse modelo e tentar transformar algo.

M&M – Em quais aspectos a Suno representa um novo modelo?
Lica  – É diferente porque é independente, tem uma grande concentração de agências nos grandes grupos internacionais, fazia tempo que não víamos tantas iniciativas de agências novas e independentes. Essa independência, assim como as grandes startups, traz muita coisa boa, porque é uma liberdade de fazer o que acredita sem necessariamente ter o headquarter te orientando e a construção desse modelo pelos quatro sócios coloca isso em prática. Foi baseado em alguns pilares a partir de brechas que enxergamos no mercado. Porque esses grandes grupos deixaram, em sua grande maioria, algumas frestas não atendidas. A gente tem um escritório para cada cliente, uma estrutura física, time físico. Muita coisa se perde quando se vira gigante, a profundidade que se tem com cliente. E é essa profundidade que dá agilidade. E também a questão da transparência. Quando o cliente fica junto com você, cocria, ele mesmo fala que a ideia dele é ruim, trazemos a transparência de volta ao processo. Traz de volta muita profundidade com agilidade e transparência.

M&M – O festival também debateu muito o modelo das big techs. Você trabalhou no Facebook. Qual sua visão sobre essa discussão?
Lica  – Por um momento, essas big techs ficaram inatingíveis, acima do bem e do mal. O que mudou – e isso afeta qualquer relação que elas tenham, e isso inclui nosso mercado – é que o modelo deles estão sendo discutidos, o papel deles numa sociedade que está questionando muita coisa que eles mesmos estão fazendo e trazendo. E isso traz uma relevância para as agências que, como curadoras e embaixadoras das marcas, têm o papel de cobrar posições quanto a privacidade de dados e brand safety. Sob o argumento de que a China vai ultrapassar e pode fazer o que quiser, não quer dizer que elas (as big techs) podem fazer o que quiserem. Tem que ter elementos regulamentados, sim. Precisam prestar contas para a sociedade como um todo e para os anunciantes que fazem deles quem são.

M&M – Qual o desafio da relação entre marcas e big techs?
Lica  – Muito anunciante tem discussões com as big techs do lado do produto, essas big techs em muitos momentos são frenemies dos anunciantes. Porque a big tech quer vender anúncio para um banco, mas está se tornando um banco, quer vender para app de comida, mas também está virando um app de comida. Então, tem esse lado de negócios e que é discussão grande para os anunciantes. Mas também tem a reputação da marca, da eficiência também.

M&M – E as big techs também são frenemies das agências?
Lica  – Também são, porque vem criando estruturas, mas não é o core do negócio deles. Para as agências, continua sendo o core. Trabalhei lá dentro, não é o core. É sobre tecnologia, engenheiros, software. As agências ainda têm o diferencial de nascerem e serem sobre isso.

M&M – Martin Sorrell (chairman da S4 Capital) e Fernando Machado (CMO global do Burger King) enfatizaram muito a importância de alocar investimentos no digital. Na sua opinião, como deve ser essa distribuição de budgets?
Lica  – Essa discussão é tão menos relevante, o que importa é a discussão sobre mensuração exata. Se é de massa ou não, é menos relevante. O que importa é o que você é capaz de mensurar. E as mensurações estão evoluindo muito. O que importa é o resultado. O mix é composto de acordo com o resultado. Acho que essa discussão sobre digital e mídia massiva é mais para fazer espuma e dar clique do que ser efetivo. O jeito de se fazer de mídia massiva não é mais sobre fazer igual para todo mundo, se você acha um jeito mais segmentado, test and learn, dá para fazer em qualquer plataforma.

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