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Como Portugal se tornou um celeiro de startups

Fomento à economia criativa, apoio à criação de startups e aprendizados pós-crise são algumas das motivações que levaram o Web Summit para Lisboa

Luiz Gustavo Pacete
3 de novembro de 2019 - 20h00

A Startup Lisboa representa atualmente um dos principais centros de empreendedorismo de Lisboa (Crédito: Divulgação)

O acrônimo PIIGS, cunhado pela imprensa inglesa em 2008, em função da crise econômica vivida por Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, seria motivo de vergonha para qualquer nação. Sobretudo pelo tom pejorativo e a associação direta com “pig”, em inglês. Na ocasião, a expressão motivou o protesto do então ministro da economia de Portugal Manuel Pinho, que rechaçou a nomenclatura. Apesar do desgaste de imagem de Portugal, esse período serviu de aprendizado. Tudo começou a mudar em 2011. Naquele ano, analistas do Investment Management (ING) e do Deutsche Bank consideraram que a nação lusa iniciava uma trajetória de retomada econômica. No ano passado, o crescimento do PIB português foi de 2,1%, percentual acima da média para a Zona do Euro, de 1,9%. De uma crise profunda, Portugal saiu para se tornar referência na Europa.

Dos ingredientes que fizeram de Portugal um dos maiores hubs de inovação do Velho Continente, estão a criação de centros de empreendedorismos, a formação de uma comunidade de investidores e políticas de incentivos à inovação somadas a baixos custos operacionais, elementos que contribuíram para fortalecer a popularidade do presidente Rebelo de Sousa que, na última edição do Web Summit, em 2018, foi aplaudido de pé durante o encerramento. As mesmas políticas que possibilitaram essa mudança de cenário econômico, foram as que levaram, em setembro de 2015, o Web Summit, originalmente Dublin Web Summit, para Lisboa. Fundado por Paddy Cosgrave, David Kelly e Daire Hickey, o evento fechou uma parceria com o governo português para se manter em Lisboa até 2028.

“De acordo com dados da Câmara Municipal de Lisboa, em 2018 existiam 18 incubadoras, 14 aceleradoras, mais de 50 espaços de coworking e 8 hubs criativos. Os setores em que o ecossistema é mais rico são os relacionados com Healthcare, Fintech — com alguma importância para Blockchain, Cleantech, Gaming, AI & Big Data e Edtech.”

 

“Após vivermos uma crise, estarmos diversas vezes na cauda da Europa do ponto de vista econômico, bem como termos perdido muito talento para outros países da Zona do Euro, há quatro anos, um novo governo decidiu apostar fortemente na criação de emprego jovem e medidas de investimento em startups e tecnologia, o que possibilitou a criação e a instalação de incubadoras, aceleradoras e outras estruturas vitais para o crescimento econômico com base na inovação”, explica Marco Barbosa, CEO da eSolidar, startup portuguesa que conecta voluntários e instituições sociais. Barbosa explica que o movimento de inovação que se originou em Lisboa, agora, impacta outras regiões do País. “Porto e Braga também se tornaram locais de excelência para o empreendedorismo e isso permite que outros empreendedores se motivem a tirar seus projetos do papel”, afirma.

Alguns dos espaços espalhados pela cidade remetem às áreas descoladas de San Francisco (Crédito: Reprodução)

Um dos cases de destaque do cenário de inovação de Portugal é a Startup Lisboa, hub de aceleração que é fruto da parceria entre a prefeitura de Lisboa e o banco Montepio. O espaço oferece programas de aceleração de startups e bolsas de apoio a negócios digitais. Desde sua criação, em 2011, mais de 280 startups já foram aceleradas, movimentando aproximadamente € 80 milhões em investimentos e gerando mais de 1,5 mil empregos. O investimento atraído por ­startups portuguesas, em 2018, chegou aos € 485 milhões distribuídos entre 152 empresas com base tecnológica. Barbosa reforça que esse cenário de crescimento vivido por seu país também impacta o Brasil, que acaba se tornando um destino inevitável para as startups portuguesas que buscam escalar seus negócios. “É um mercado muito atrativo por sua dimensão, bem como pelo dinamismo e aceitação de novos produtos tecnológicos. Além disso, é uma porta de entrada para toda a América Latina”, diz o CEO que inaugurou, em outubro, a operação da eSolidar no Brasil, empresa responsável, desde 2015, pelos leilões dos instrumentos e itens doados pelos artistas que se apresentam no Rock in Rio.

Pedro Rocha Vieira, CEO da Beta-i, agência que promove o empreendedorismo na região, comenta que a mudança do Web Summit para Lisboa é fruto desse cenário de inovação. No entanto, ele não é, por si só, um fator isolado. “O ecossistema de inovação de Portugal não ficou parado ao redor do Web Summit, sua evolução é transversal e orgânica. Isso ocorre também porque muitas empresas se reinventaram. No nosso caso, passamos de uma associação de promoção do empreendedorismo e inovação para uma empresa privada que desenvolve programas europeus e internacionais de open innovation, acelerando o crescimento de grandes empresas por meio da conexão com startups de todo o mundo”, explica, reforçando que este contexto vem atraindo fundos como a Portugal Ventures, a Caixa Capital, LC Ventures e Shilling Capital que têm contribuído para esta este ciclo de expansão do ecossistema local.

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